domingo, 22 de maio de 2016

Paradoxos do arqueiro






"Como flechas na mão do guerreiro,
assim são os filhos.".
Salmo 127.4



Ah! Este vazio tão denso e pesado
De lembranças frescas e leves!
De abraços e beijos, de seus cheiros,
Voz, gritos, algazarra.
Das conversas tantas
De projetos e afetos...
Como pesa o vazio!

Arcos, nos retesamos
Por muitos,
Poucos e deliciosos,
Anos,
Sentindo cada vibração
Da madeira e corda,
A agitação de haste e seta,
Seus movimentos e buscas,
Cambiantes alvos e direções.
Até que de repente
Entendemos:
A flecha vai partir.

Então já velhos guerreiros
Provados em tanta luta,
Tanta queda, tanta volta,
Pensando sermos
Empedernidos,
Fraquejam braço e peito;
E ela voa por si só.

Sofrimento, angústias,
Feitos de alegrias,
Augúrios.

O coração fica pequeno
De tanto amor e carinho.
E pequenino percorre
Corre célere
Longos tempos, espaços,
Pra na distante flechinha
Derramar sua carga e bênçãos.
Não há mais arco nem corda;
Sobrou esta flecha bem usada
Que de queridos arcos
Um dia também voou.

Apontei flechas, cinco.
Procurei dar direção
Sem estreitezas
De linha ou plano;
Em multi-espaços
Com leves fronteiras
Tecidas de querer bem.

Uma, de tão leve e frágil,
Sumiu-se pelos Céus.
Outras e outro
Construíram seus caminhos
Aprontaram e aprontam
Suas flechas
De seus cestos ou adotadas.
Longe ou perto
Inda que em pouso certo,
De cada uma
Tenho um coraçãozinho
Enorme,
Apertado, abarrotado,
De amor e carinho,
De bênçãos que deles brotam
A cada relembrar.
Ah! Queridas,
Todas deixaram um vazio
Também repleto
Do peso de tanta lembrança!
 Eis que já em avançada
Idade e mais fraquinho
A coisa se repete.

Casa cheia de vozes,
Amigos,
Gritos, falas, andanças,
Carinhos, abraços,
Cheia de você,
Cheia de lembranças
Que a esvaziam;
E toldam
Meu dia,
Minha noite silente,
Vazia!

Você foi, Flecha minha,
Mais uma vez para seus alvos
Distantes,
Em que eu o busco,
Sonho, imagino,
Paragens e andagens
Em que juntos estejamos.
Sonho que seja,
Alivia o oco em que sua partida
Transformou esta casa minha.

E vou voando, velejando, com você,
Esperando em cada chegada
A cada porto, cada ponto,
Ouvir sua voz, ver seu rosto,
Ao menos uma mensagem
Que me diga
Onde está e como.

E neste árido vácuo
Que de lembranças
Em abundante colheita
Se abarrota,
Sofro de alegria
Ao ver mais esta cria minha
Cada vez mais gente,
Intrépido, feliz, seguro,
Buscar seus espaços, seu futuro,
Forte, belo, inteligente,
Indez de coisas boas,
Crescimento e conquistas.

Ai!

Como pesa o vazio!

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