Neste caso...
CHAMA A
BARBINAAA!
Tião, Sebastião Maria Rosalvinho da Silva, caboclo dos cafundós do interior de São Paulo, atarracado, mas musculoso, novo ainda em seus vinte e muitos anos, rugas talhadas pelo sol da capina, mãos calejadas pela enxada e foice, argúcia e atenção para ver cobras e bichos perigosos, evitar carrapatos, imaginar meios e armadilhas, enquanto ia trabalhando com o cigarro de fumo de corda raspado a canivete enrolado em folha de milho bem alisada, pendurado no canto da boca;
como bom fumador de cigarro de palha; sempre que apagava, o reacendia com a pedra de pederneira da pistola enfiada no cós da calça.
Queria
coisa “mió” que o pago da semanada para si e irmã, melhorar a casinha de pau a
pique.
Curso
primário terminado com dificuldade em cinco anos, não tinha como pensar no que
aparecia de vagas em escritórios ou como atendente de lojas.
Eis
que Seu Gumercindo, seu tio-primo, aparece domingo para o café ralo em sua casa
e, papo vai e vem, conta que viu tabuleta na estação pedindo guarda-chaves.
−
Oba! Esta é pra mim!
Segunda
cedo, pediu folga para o patrão; às oito estava sentado no banco de passageiros
da estação.
Astrolábio,
neto do ex-Prefeito da cidade, abriu o escritório às nove, com Tião quase
grudado a ele.
−
Oi, Tião, como vai? Que precisa?
−
Quero ser o novo guarda-chaves.
−
Senta aí; espera um pouco.
Astrolábio
abriu as janelas, espanou o pó do armário, mesa e dadeira, passou flanela no
telefone da linha pendurado atrás da mesa, tirou o auscultador do gancho para
certificar-se que estava funcionando, colocou o caderno de registros, lápis,
caneta, tinteiro e mata-borrão sobre o linóleo. Sentou-se.
−
Tião, você sabe o que é o trabalho de guarda-chaves?
−
Sei sim Sinhô.
−
Gosto de você, de seu jeito, sei como é trabalhador; mas a estrada de ferro
exige que faça uns testes para poder ser aceito.
−
Vâmu lá, Seu Astro.
−
É o horário da noite. Suponha que você vê o farol do trem de cargas do sul vindo
em direção à Estação, olha para o outro lado e vê o farol do leiteiro que vem
do Norte, mas na mesma linha: o que você faria?
−
Pego a alavanca, puxo, abro a linha da isquerda pro leitero deixo a principá
pro di carga.
−
Muito bem! Mas a alavanca está enferrujada.
−
Pego a armotolia, i passo óio pra disimperrá.
−
Certo! Ainda assim, a alavanca não funciona.
−
Pégu uma lanterna, corro i ponho lôngi prus nórti, traveis pégu ôtra i ponho nos sur.
− Mas as lanternas estão sem óleo; e daí?
−
Gárru um monti di gravêtu, faço uma fuguera pros nórti i ôtra prus sur.
Boa
resposta! Mas está chovendo muito...
−
Daí intâum vô chamá a Barbina.
−
Chamar a Barbina? Quem é a Barbina?
−
É minha irmã, vô gritá: