quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

 


 

Neste caso...

CHAMA A BARBINAAA!

Tião, Sebastião Maria Rosalvinho da Silva, caboclo dos cafundós do interior de São Paulo, atarracado, mas musculoso, novo ainda em seus vinte e muitos anos, rugas talhadas pelo sol da capina, mãos calejadas pela enxada e foice, argúcia e atenção para ver cobras e bichos perigosos, evitar carrapatos, imaginar meios e armadilhas, enquanto ia trabalhando com o cigarro de fumo de corda raspado a canivete enrolado em folha de milho bem alisada, pendurado no canto da boca; 

como bom fumador de cigarro de palha; sempre que apagava, o reacendia com a pedra de pederneira da pistola enfiada no cós da calça.



Queria coisa “mió” que o pago da semanada para si e irmã, melhorar a casinha de pau a pique.

Curso primário terminado com dificuldade em cinco anos, não tinha como pensar no que aparecia de vagas em escritórios ou como atendente de lojas.

Eis que Seu Gumercindo, seu tio-primo, aparece domingo para o café ralo em sua casa e, papo vai e vem, conta que viu tabuleta na estação pedindo guarda-chaves.

− Oba! Esta é pra mim!

Segunda cedo, pediu folga para o patrão; às oito estava sentado no banco de passageiros da estação.

Astrolábio, neto do ex-Prefeito da cidade, abriu o escritório às nove, com Tião quase grudado a ele.

− Oi, Tião, como vai? Que precisa?

− Quero ser o novo guarda-chaves.

− Senta aí; espera um pouco.

Astrolábio abriu as janelas, espanou o pó do armário, mesa e dadeira, passou flanela no telefone da linha pendurado atrás da mesa, tirou o auscultador do gancho para certificar-se que estava funcionando, colocou o caderno de registros, lápis, caneta, tinteiro e mata-borrão sobre o linóleo. Sentou-se.

− Tião, você sabe o que é o trabalho de guarda-chaves?

− Sei sim Sinhô.

− Gosto de você, de seu jeito, sei como é trabalhador; mas a estrada de ferro exige que faça uns testes para poder ser aceito.

− Vâmu lá, Seu Astro.

− É o horário da noite. Suponha que você vê o farol do trem de cargas do sul vindo em direção à Estação, olha para o outro lado e vê o farol do leiteiro que vem do Norte, mas na mesma linha: o que você faria?

− Pego a alavanca, puxo, abro a linha da isquerda pro leitero deixo a principá pro di carga.


− Muito bem! Mas a alavanca está enferrujada.

− Pego a armotolia, i passo óio pra disimperrá.


− Certo! Ainda assim, a alavanca não funciona.

− Pégu uma lanterna, corro i ponho lôngi prus nórti, traveis  pégu ôtra i  ponho nos sur.




− Mas as lanternas estão sem óleo; e daí? 

− Gárru um monti di gravêtu, faço uma fuguera pros nórti i ôtra prus sur.


Boa resposta! Mas está chovendo muito...


− Daí intâum vô chamá a Barbina.

− Chamar a Barbina? Quem é a Barbina?

− É minha irmã, vô gritá:


Clique no assunto para acessar as respectivas postagens:

acordar (1) ajuda a adiantados. (1) ajuda a iniciantes (1) alcançar (1) álcool (1) alegria (2) além (1) alma (1) amar (1) amizade (1) amor (2) Anabela Gradim (1) angústia (1) Ano Novo (1) António Fidalgo (1) Antrópico (1) aposentadoria (1) aprendizado (1) Apresentação (1) argonautas (1) asteróide (1) ateísmo (1) ateísmo militante (1) autossuficiência (2) Azagaia (1) Bacamarte (1) barbárie (1) batida (1) bebado (1) bebedeira (1) Beleza (1) Big Bang (1) bombardeio (1) boto (1) Brahms (1) Brasil (1) brinde (1) Bunker Roy (1) buraco (1) busca (1) cabeça (1) cabecinha (1) cadeira (1) Caminho (1) câncer (1) Carl Sagan (1) carro elétrico (1) caseiro (1) cérebro (1) Chico Buarque (1) China (1) ciência (2) Ciências (9) cinema (1) Claudio Villas Boas (1) cocô (1) comportamento (1) comprovado (1) comunismo (1) concussão (1) consumo de energia (1) conteúdo (1) continente (1) Conto (2) Contos (1) Corpo (1) cortisol. (1) Covid (1) crânio (1) criança (2) crianças (2) crônica (3) cuidados (2) curiosidades (1) dedicação (1) Delfos (1) Depressão (1) desastre (3) Desbravar (1) Descartes (1) Descobrimentos (1) descontrair (1) desenho (1) desidratação (1) desidratação. (1) Desígnios (1) destino (1) detritos (1) deuses (1) devoção (1) Dia Novo (1) diagnóstico (1) dicas (1) dislexia (1) Ditadura (2) DNA (2) doença (1) doença de criança (1) dor de barrida (1) E não houve tempestade em Tóquio (1) Einstein (1) eletricidade (1) eletrólitos (1) eletromagnetismo (1) Embornal (1) energia (1) entanglement (1) entranhas (1) entropia (1) epistemologia (1) Equador (1) erotismo (1) escovar dentes (1) Esperança (3) Estados Unidos (1) estrutura (1) estudo (1) estudos (1) etnia (1) exercício (1) exercício físico (1) fábula (2) falta de ar (1) Fellini (1) Fernando Pessoa (1) ferroviário (1) Feto (1) filhos (1) Filosofia (5) fim dos tempos. (1) Final (1) Finalidade (1) fingindo (1) fios (1) Física (8) Física Quântica (2) folclore (1) Fritjof Kapra (1) fumo (1) fúria (1) futuro (1) Ganhos (1) gastroenterite (1) genitais (1) genitália (1) gênito urinário (1) geologia (1) Glória (1) gratidão (2) Guarujá (2) guerra (1) Haikai (1) Harlan Coben (1) Hedy Lamarr (1) Heisenberg (1) heterodoxia (2) hidratação (1) hidrogênio (1) hiperespaço (2) História (4) história da física (1) holismo (1) holocausto (1) hpv (1) Humor (1) identidade (1) iluminação (1) imortal (1) imune (1) imunizado (1) Índia (1) infecção (1) infortúnio (1) Insônia (1) inútil (1) Invenção (1) investigação (1) irmão (1) Isaac Newton (1) isolamento (1) ISRS (1) Jasão (1) João Villaret (1) Judaismo (1) Kindle (1) Kobo (1) laranja (1) Leituras e Anotações (9) lembranças (1) lembranças tratamento (1) lenda (1) Letícia Martins (1) links sérios (1) literatura (12) literatura.poesia (1) Livraria Cultura (1) livro (2) lógica (1) Louvor (1) luz (1) maçã (1) mãe (1) Maeve Blinchy (1) mar (1) Mastroianni (1) matemática (2) medicina (2) memória (1) memórias (1) menino (1) mensagem (1) mental (1) mentiras (1) meta (1) Metrô de São Paulo (1) Michio Kaku (4) Miguel Sousa Tavares (1) minhoca (1) Mônica Martins (1) Monolito (1) motor (1) Movimento Pés Descalços (1) mulher (1) murmúrio (1) músculos (1) Música (2) nada (1) Navegação (1) nebulização (1) neurônios (1) Newton (1) Newton da Costa (1) Nick Bolstrom (1) Nick Bostrom (1) Nova York (1) o nada (1) objetivo (4) Odisseia (1) Olimpo (1) Omega 3 (1) ômega 3.6.9 (1) onde estou (1) origem da vida (2) Orlando Villas Boas (1) ortodoxia (1) ouvir estrelas (1) pacientes (1) Paixão (1) paleontologia (1) paliativo (1) panorama (1) papiloma (1) Paris (1) Partículas (1) passado (1) passeio (1) passo (1) Paz (1) pediatria (1) pele (2) Penélope (1) pênis (1) Perdas (1) Perdas e ganhos (2) perseguir (1) petróleo (1) Pitangueiras (2) Pitkanen (2) planeta (1) poema (2) poesia (17) Poesia e poemas (2) Popper (1) posso (1) povos indígenas (1) Pra Quê? (1) praia (1) Principia Mathematica. (1) prisoneiro (1) Provocações e Desafios (5) Purgatório (1) quem é (1) rápido (1) realidade (2) realizar (1) Recife (1) recomendações (1) Rede (1) Reminiscëncias (4) respeito (1) Richard Dawkins (1) Robert Paster (2) Roger Penrose (1) romance (1) Russia (1) sabedoria (1) sabido (1) sadio (1) saída (1) saudade (1) Saudades (1) saúde (6) saúde criança (1) Segunda Guerra Mundial (1) Segurança Aérea (1) semiótica (1) sentido (1) serotonina (1) sexos. (1) sísifo (1) social-democracia (1) sofrimento (1) sol (1) solução (1) sonhador (1) Sonho (4) Stephen Hawking (3) suco de laranja (1) sucos (1) sufoco (1) Sundries (25) superação (1) sussurro (1) susto (1) Tabacaria (1) tabaco (1) taça (1) tecnologia (1) Telêmaco (1) Teoria Antrópica (1) teorias (1) teorias da conspiração (1) terminal (2) TGD (1) The God Delusion (1) Thomas Kuhn (1) trabalhador (1) Trabalhar em casa (1) Trabalho (1) Trabuco (1) tradição (1) trapaças (1) tratamento (5) Trilha (1) Ugo Volli (1) Umberto Eco (1) universal (1) Universidade Barefoot (1) universos (1) urgência (1) UTI (1) útil (1) utopia (1) vacina (1) vagina (1) vaidade (1) vazante (1) Velocino de Ouro (1) Veneno (1) verdades (1) verificado (1) vida (3) vídeo (1) videos (1) vitória (1) Você sabia? (2) vulcões (1) Was the universe made for us? (1) Whisky (1) Zarabatana (1) Zumbi (1)