Era uma vez uma linha
Que estava enrolada, enroladinha,
Tanto que neste mundo
Era só um ponto; invisível,
Desapercebido, despercebido,
Desenxabido.
Em seu universo chato, sem cores,
De nove ou mais dimensões
A linha sonhava ser gente,
Ser reta, linha distinta,
Distinta de tantas outras,
Distinta e nobre
Como sonhava o fora.
Eis que uma outra linha
Como toda noite fazia
Reta, distinta, passeava em espaço 3w
De múltiplas dimensões.
Viu o bilhete de socorro
Rabiscado enrolado
Ali deixado;
Ressabiada, mas curiosa,
Respondeu sem deixar pistas.
A primeira linha, a enroladinha,
Chamemo-la “o novelinho”
Estupefato, encantado,
Deitou mais bilhetes a esmo.
Noutra noite a linha se deixou ver.
O novelinho a viu por suas linhas
As viu e admirou:
Retas, lindas, coloridas!
Um tanto encabulado,
Já um pouco desenrolado
Dela se acercou.
Tentou enrolá-la
Mas ela sabida
Se enrolar não deixou.
Reta distinta,
De início desconfiada,
Deixou que o novelinho
Puxasse papo e escutou.
Papo vai papo vem
O novelinho se endireitava
A cada vez mais e mais
Até que um belo dia,
Digo, bela noite,
A distinta e reta linha,
Talvez um tanto tortinha,
Talvez um tanto tontinha,
Convidou o novelo
Para encontrá-la em E4!
O ex-novelo, já linha,
Ainda que amarfanhada,
Desencontrado neste espaço
De volumes e cores
Em que sabia já ter estado
Enfim conseguiu chegar.
Coração disparado –
– Sim aqui, tudo, até coração havia –,
Ao sorriso cativante e franco,
Às suas cores, beleza,
Se derreteu.
Se derreteu e, solidificando
Pouco em pouco,
Uma têmpera aqui e ali,
Em reta também se tornou!
Linha e linho em paralelas
Próximos, mais próximos,
Tocaram seus pontos,
Se enrolaram em fusão!
Explosão em sons e cores!
Carinhos, amores...
Assim seguiram linha única;
Assim felizes para todo o sempre,
Não fora elipses,
Parábolas, hipérboles,
Não fora o verbo
As ferir e confundir.
O amor, mais forte,
Apagou rabiscos e traços
Pensou pontos, reconstruiu pedaços.
Ficaram as marcas de suas lembranças
Venturas das aventuras.
Seguem hoje
Linha e linho
Seus caminhos.
Paralelos ou não
Se amando
Felizes para todo o sempre.
FMFG
Março de 2013