quarta-feira, 20 de março de 2013

Um velho respeitável



– Olha só como está velho, cansado! Anda devagar, cabeça erguida, mas passos a esmo, como se não soubesse aonde ir ou chegar...

Ele, com sua longa experiência, olha examina, pensa. Sem a pressa, brincadeiras, algazarras dos jovens. Cães ladram e ele, indiferente, passa.

Eu o observo sempre que posso.

Examina o que se lhe apresenta com cuidado. Se em dúvidas para, pensa, medita, antes de prosseguir. Às vezes volta a um trecho, reexamina, aprova ou não.

Sim, enquanto pensa anda para melhor pensar, cabeça erguida, não olha para baixo.

– Deve estar cego, ou já com Alzheimer: fica olhando o infinito, parado, olhando o que não há ou o que nem merece uma olhada. 

Não! Respeitoso e atencioso, ao sexo oposto nem tanto; aos rapazes e velhos, sempre dá um bom dia, boa tarde ou noite.

Ele olha o que ninguém vê, sente ou cheira. Se o observo também nada vejo, mas sei que ele, com seu faro, seu instinto, sua tão longa vida, deve ter razão para ali ficar espiando coisas que sabe existir, ou que memórias tantas o façam ali rever. Que merecem respeito.

– Tá doido mesmo! Agora sai, de repente, em carreira, e logo adiante para ou volta a seu passo lento, trôpego...

Sim, com excelente memória, lembrou-se que adiante havia trabalho ou documento a examinar. 

Chegado para, pensa, considera com seriedade e profissionalismo. Se aprova assina ou deixa instruções. Se viu que era coisa sem importância retoma seus afazeres, em seu ritmo, seu passo, seu tempo. Se sem saber bem de que se trata, coça a cabeça como qualquer um; em geral descobre ou desiste, e vai em frente.

Deixa marcas, ensinamentos, mensagens para todas as raças. Quem quiser que as leia ou não; seu papel já cumpriu.

Respeitável este senhor!

Seu nome? Já o sei há tempos: Sr. Totty[1].



FMFG, março de 2013, seu admirador inconteste. 



[1] Sr. Totty é brasileiro, nascido em São Paulo, Capital, de ancestrais germânicos, idade um tanto incerta, entre 76 e 80 anos de idade, tamanho médio, cabelos cinza claro, sobrancelhas e bigode cinza mais escuro, um Schnauzer ainda bonito de boa raça.




sábado, 16 de março de 2013

Aventuras de duas linhas


Sundries





Era uma vez uma linha
Que estava enrolada, enroladinha,
Tanto que neste mundo
Era só um ponto; invisível,
Desapercebido, despercebido,
Desenxabido.
Em seu universo chato, sem cores,
De nove ou mais dimensões
A linha sonhava ser gente,
Ser reta, linha distinta,
Distinta de tantas outras,
Distinta e nobre
Como sonhava o fora.

Eis que uma outra linha,
Reta, distinta,
Como toda noite fazia
Passeava em espaço 3w
De múltiplas dimensões.
Viu o bilhete de socorro
Rabiscado enrolado
Ali deixado;
Ressabiada, mas curiosa,
Respondeu sem deixar pistas. 

A primeira linha, a enroladinha,
Chamemo-la “o novelinho”
Estupefato, encantado,
Deitou mais bilhetes a esmo.
Noutra noite a linha se deixou ver.
O novelinho a viu por suas linhas
As viu e admirou:
Retas, lindas, coloridas!
Um tanto encabulado,
Já um pouco desenrolado
Dela se acercou.

Tentou enrolá-la
Mas ela sabida
Se enrolar não deixou.
Reta distinta,
De início desconfiada,
Deixou que o novelinho
Puxasse papo e escutou.

Papo vai papo vem
O novelinho se endireitava
A cada vez mais e mais
Até que um belo dia,
Digo bela noite,
A distinta e reta linha,
Talvez um tanto tortinha,
Talvez um tanto tontinha,
Convidou o novelo
Para encontrá-la em E4!

O ex-novelo, já linha,
Ainda que amarfanhada,
Desencontrado neste espaço
De volumes e cores
Em que sabia já ter estado
Enfim conseguiu chegar.

Coração disparado –
– Sim aqui tudo, até coração havia –,
Ao sorriso cativante e franco,
Às suas cores, beleza,
Se derreteu.
Se derreteu e, solidificando
Pouco em pouco,
Uma têmpera aqui e ali,
Em reta também se tornou!

Linha e linho em paralelas
Próximos, mais próximos,
Tocaram seus pontos,
Se enrolaram em fusão!
Explosão em sons e cores!
Carinhos, amores...

Assim seguiram linha única;
Assim felizes para todo o sempre,
Não fora elipses,
Parábolas, hipérboles,
Não fora o verbo
As ferir e confundir.

O amor, mais forte,
Apagou riscos,
Rasuras,
Pensou pontos, reconstruiu pedaços.
Ficaram as marcas
Lembranças
Das aventuras a ventura.

Seguem hoje
Linha e linho
Seus caminhos.
Paralelos ou não
Se amando
Felizes para todo o sempre.




FMFG
Março de 2013



terça-feira, 5 de março de 2013

À espera da boa nova

Sundries



Em minhas angústias
Lambi dedo
Buscando direções dos ventos
Deixei mensagens à lua
Rondando sua cheia
Você já sabe.
Em xícaras de chás miraculosos 
Deitei folhinhas e óleo.

A meus apelos
Mães e pais de santos
Jogaram búzios, cartas;
Com afinco tentei
Entender horóscopos,
Mesmo o mais meu próximo,
Que faz minha filha.

Ouvi estrelas, tentei entendê-las,
Atentei ao murmúrio do mar,
Você já sabe.
Recebi mensagens 
Em que santos 
Prometiam milagres
Se eu as reenviasse;
Reenviei e... Nada!
 
Nada, só confio em Delfos.
Dele, sei, virá a resposta.
Ao sopé de meu Parnaso
Não em Pytos,
E sim sobre a mesa
Entro no templo
Todas as manhãs
E clico na Pitonisa.

Aguardo que eflúvios
De pneumas leves, doces,
Abram misteriosos signos.
Escuto sons que penso
Sejam da fonte, plim, tlim...
E eis que Têmis, inebriada,
Abre vaticínio pra mim. 

Um tanto enevoados 
Foram os primeiros.
Mais auspiciosos a cada dia
Foram nutrindo esperança,
Me obrigando à visita
Amanhã e depois, depois...

Assim há cerca de um ano
Fiel, consulto Delfos,
Pela manhã, tarde, noite,
Alimentado pela esperança
Que muitos dizem ser fantasia.
Apolo, sol, luz da verdade,
Dirá quem tem razão;
Têmis, primeira pitonisa,
Também deusa da justiça
Justiça a mim fará. 

Amanhã, depois e depois,
Entrarei em Delfos, clicarei em Têmis
Até que chegue a profecia
Que, afinal, me salvará.



FMFG
28 de fevereiro de 2013


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