terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

À bolina

Sundries



Olhos cerrados,
Sento-estirado
Num fardo à proa,
Sol ardente a me beijar,
Vento médio de través amurado
De 11 horas, eu penso,
Me acaricia.
Som ritmado das ondas
Me embala.

Capitão Pedro,
Lá atrás, mãos firmes manobra
Timão, adriças, escotas.
Pam! Som meio abafado das velas
Reenfunando
Em cambadas por davante
Se repete de tempo em tempo.
Singramos nossa distância...

Ventos de proa
Nos fustigaram muitos,
Soubemos arribar.
De há muito bordejamos
Em busca do encontro.
Cavalgamos bravos corcéis
Planando altas vagas.
Quando nossas bússolas
Nos falharam
Em sextantes procuramos
Auxílio nos céus.
Só inda não encontramos
Aquela estrelinha,
A que realiza desejos.
Não importa,
Bordejemos!

Olhos cerrados,
Sento-estirado
Numa cadeira, mar à proa,
Sol ardente a me beijar,
Vento médio de través
De 110 graus, eu penso,
Me acaricia.
Som ritmado das ondas
Me embala.
Abro os olhos
Na praia de Pitangueiras.

Nada além do longínquo horizonte,
Mas sei que meu Capitão está lá.
Sem veleiro, velo.
E singramos nossa distância
Ansiando por popa rasa
Que um dia, algures,
Permita que, novamente,
Possamos nos abalroar.


FMFG
22 de fevereiro de 2013.

4 comentários:

  1. Não sei se entendi o significado mais profundo, acho que sim, mas fico sem perceber muito bem o título.
    De uma coisa, entretanto, tenho certeza: daqui a algum tempo, talvez não muito, vai ser preciso encontrar quem fale português "antigo" (o de hoje) para ler esse poema como se deve, a exemplo do que acontece hoje com Camões, que só é lido direito por brasileiros...
    Grande abraço
    Luiz A. Góes

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    Respostas
    1. Góes,

      Me comparar a Camões seria elogio imenso, não fora ser descabido. As palavras que uso são comuns atualmente. No entanto, muito obrigado.

      "Em termos náuticos, navegar à bolina, bolinar ou velejar de contra-vento é marear (ou seja, navegar) com vento afastado o máximo 6 quartas da proa (± 45 graus). É uma técnica empregada por embarcações que consiste em ziguezaguear contra o vento, o que permite navegar por zonas onde o vento não é favorável.".

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  2. Parece ate mesmo ter sido escrito por aquele que navega. Seja por entre ondas e rajadas ou desfiando seu caminho pela vida. Que linguagem tao bela e ressonante quamto o som de um casco que corre por milhas e milhas ao largo de oceanos. Sem duvoda depois de algumas muitas delas, os ventos levarao a arribar em aguas familiares.
    Navegar é preciso, nao é mesmo?
    Muitissimos beijos saudosos,

    Flexinha.

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    Respostas
    1. Flavio Musa 9 de março de 2013 23:06

      Meu Flecha adorado,

      Sim, querido, navegar é preciso.

      Obrigado: quando se ama a gente consegue entender e tentar falar a língua do amado.

      Esperamos, sua mãe e eu sua arribada por estas plagas ou, quem sabe, que nossas naus irem abalroar a sua em sabe-se lá onde...

      Carinho, beijos, saudades do

      Papiflay.

      E, claro, "que você quebre a perna"!

      Excluir

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