Jangadeiros da areia

Sundries

Cai a noite como se fora tardinha;

Horário de verão.

Ferrar velas, abafar panos,

Arrumar tralhas.

Levantar ferros,

Zarpar, sugados, empurrando jangadas

Mais pesadas sobre a areia fofa.

Se o tempo é ruim,

Felizes por chegar mais cedo em casa,

Tristes, pois a pescaria foi rasa.

Qual amantes,

Chegam na boca da noite, partem de madrugada.

De véspera compraram iscas

Cada qual conforme derrota e presa

Carnes, linguiças, salsichas,

Farinhas de trigo ou mandioca,

Cocos, milho, gelo,

Refrigerantes, bebidas, doces...

Forniram seus farnéis.

Em singradura

Lá se vão puxando, empurrando seus barcos;

Sós se a nau é mais leve,

Patrão e tripulação em galera pesada.

Dia raiando, balizas seguidas,

Arribar, encalhar.

Erguer mastros, estaiar se preciso,

Arrumar cordoalha,

Içar panos, bandeirolas e galhardetes.

Aprontar anzóis, linhas ou redes;

Alardear suas iscas.

Pirogas leves pela praia bordejam

Alargam, bolinam,

Maream conforme ventos propícios.

Simpatia e serviços também iscas,

Fisgam, caçam, pescam,

Incansáveis,

Sob chuvisco ou sol ardente

Em coletes e náuticos uniformes.

Marujos , todos se ajudam,

Se dão cocha, patrões bizus aos tripulantes.

Presas alheias a sua faina

Dela se servem,

Chamam, exigem,

Refesteladas na areia

Ou pairando, planando em cabotagem;

Areiam, chamam jangadeiros,

Refestelam-se ao sol

Ou protegidas por suas pequenas genoas.

Bem servidas, papeiam, comem,

Bebem, cochilam,

Ou curtem ensimesmadas

Tanta beleza...

Dia longo;

Jangadeiros, missões cumpridas,

Ferrar velas, abafar panos,

Arrumar tralhas.

Levantar ferro,

Zarpar empurrando jangadas

Mais pesadas sobre a areia fofa...

É meu povo,

Bom, forte, simples,

Crente, em Deus esperante.

Amanhã, se Deus quiser,

Tudo de novo. 

FMFG

15.02.2013