Marighela foi morto a duas quadras de onde eu morava.
Muito antes disso eu escolhera e entrevistara cerca de 70
profissionais de nível superior e de reconhecida competência em seus campos; e
dentre eles contratei perto de 40 para comporem o primeiro escalão do quadro do
Metrô de São Paulo.
Posso dizer, com alguma imodéstia, que fui um dos principais
criadores da Companhia do Metropolitano de São Paulo – claro que com o
beneplácito do Quintanilha Ribeiro e do Zé Vicente (de Faria Lima), com algumas
relutâncias... Escrevi seus Estatutos; rabisquei o que hoje seriam as Políticas
de Recursos Humanos; o quadro de salários; o propósito da empresa, que hoje
fariam parte do compromisso para a certificação ISSO 9.000.
Entrementes meu querido amigo e compadre e eu procurávamos
empreender alguma coisa que pudesse ser fonte mais permanente de sustento. Não
me lembro quem nos tenha apresentado e porque viemos a conhecer dois
personagens, também à busca de mesmo objetivo, muito menos quem descobriu a
gráfica cujo dono já estava cansado. Compramos a dita cuja e passamos, cada um
como podia e no pouco tempo disponível, a organizar o negócio e buscar
encomendas. Começou a entusiasmar.
Dois de meus subordinados no Metrô, e amigos, foram presos.
Um sumiu por quase seis meses; o outro por três semanas.
Nossos dois sócios na gráfica (!) foram presos também: um
sumiu por duas ou três semanas, o outro por cerca de seis meses ou mais.
Estavam, ambos, mais que envolvidos com os Dominicanos das Perdizes, daquele
Convento que eu freqüentara com assiduidade em meus tempos de católico e membro
da JUC, onde viviam muitos padres, dentre os quais alguns muito amigos meus.
Ah! Que saudades de Frei Michel Pervis!
Isto tudo acontecendo, e naqueles “Anos de Chumbo”, comia
pouquíssimo e empurrado, dormia sobressaltado e pouco, me apavorava com
qualquer sirene: agora é minha vez! Foi ótimo para a silhueta: emagreci uns 10
quilos em poucas semanas.
Um dia, ao cair da tarde, o João Carlos me deu uma carona
até minha casa e parou seu carrão (nem me lembro que geringonça era) em frente
ao portão; eu já ia saltar quando começou a tocar (na Eldorado, penso) o 1º
Concerto para Violino e Orquestra de Brahms, sem interrupção.
Não nos movemos nem trocamos qualquer palavra até o final.
- Boa noite!
- Até.
Naqueles muitos minutos estávamos – juntos e solidários – em
outro país, outra parte, onde tudo era harmonia, beleza, paz...
Meu caro, se valer alguma coisa o testemunho da pior contratação que você fez, posso autorizá-lo a suprimir o termo "imodéstia".
ResponderExcluirNão é a primeira vez que faço este testemunho. Logo que elaboramos o primeiro plano diretor de informática (na época ainda não se usava esse termo)uma das primeirss pessoas a quem entreguei uma cópia foi você, que estava na Presidência da Congás.
Se você estivesse no Metrô, com toda a certeza poderiamos ter posto em prática esse plano integrado aproveitando a oportunidade única de começar do começo...
Mas essa entrega foi o meu testemunho, singelo, que pretendeu dizer tudo o que você escreveu acima.
Empresa pública com ares de empresa privada (bons tempos!), amigos de várias especialidades em reuniões para discutir critérios, normas, etc.
Felizmente algumas amizades permanecem.