Ele saltou da moto,
Imunda,
Coberta de barro e poeira,
Ele também,
Em frente ao boteco
Ao lado do poste
Pra amarrar montaria.
Sede muita;
Sede muita;
Dias na Belém-Brasília,
Ora sol escaldante,
Ora chuva torrencial
Que, aliás,
Não mitigava.
Meio trôpego,
Meio trôpego,
Cambaleou para o interior
Da birosca escura,
Capacete na mão.
Olhando onde pisava
Buscou onde despachar
Carcaça e carapaça;
Pupilas dilatando,
Névoa s’esgarçando,
Foi levantando a vista.
Chita colada ao monumento,
Pés descalços perfeitos,
Encimados
Por longas pernas
Assim também.
Acima barriguinha
Reentrada,
Peitos na medida,
Pescoço de égua de raça,
Tudo isto encimado
Por lábios carnudos,
Carminados
Nem tão nem pouco;
Nariz que desafia,
Amendoados olhos...
Verdes!
Enquadrado
O conjunto
Em semblante...
Rafaelino?
Cavalcantino?
Indizível.
A morema
O recebeu.
Perfume
Perfume
Como que derramado,
Fundindo e infundindo
Tudo
E todo ele
Mais ainda confundido...
Caramba!
De novo a insolação!
- Moço como cê tá suado!
E sujo...
Carece de banho d’esguicho.
...Primeiro uma breja gelada,
Balbuciou.
‘Péra aí. Vô procurá.
Recostado no banco longo e tosco...
Dormiu
Nem sabe ele quanto
Nem que e quanto
Sonhou.
A velhinha, o viu levantar-se,
A velhinha, o viu levantar-se,
Chegou-se.
Deu-lhe a cerveja
E o copo (de requeijão).
Bem gelada como pedira.
Bem gelada como pedira.
Mas despertou da fantasia.
Se aprumou.
Foi à "casinha",
Foi à "casinha",
Se aliviou.
Tambor à guisa de pia,
Tambor à guisa de pia,
Na bica se lavou
Como pode.
Não achou
O tal esguicho do sonho.
Comeu o "prato do dia".
Comeu o "prato do dia".
O de todos os dias.
Pagou uma merreca
Pagou uma merreca
E deu uma boa gorjeta.
Com sorriso banguela
Com sorriso banguela
Bondoso
E sei-lá-que:
- Deus o abençoe moço!
O sol continuava forte.
O sol continuava forte.
Retinia
Em cada pedaço da moto,
Limpa,
Lavada,
Escovada,
Encerada,
Como nova.
Caramba!
Caramba!
Deve ter sido febre braba!
‘Inda bem que falta pouco.
Montou mais sossegado;
Montou mais sossegado;
Acelerou
A bêemevê feito louco.
Sentiu a pressão na cintura,
Sentiu a pressão na cintura,
O mesmo perfume
Cálido e fresco;
Cabeça colada à sua,
Negros cabelos esvoaçando,
Chicoteando seu rosto,
A morena na garupa
Se colando mais e mais...
Nem ele e ninguém
Soube ou sabe
Se ou que houve,
E quem sabe?
O que depois...
FMFG – Janeiro de 2011
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