domingo, 7 de janeiro de 2018

Às vezes um acontecimento quotidiano e...

Gigantesca enxurrada de pensamentos![1]


De minha sacada observo, todas as manhãs, ou quase todas, por volta das 9 e pouco, cinco pescadores, ali à minha frente, começarem a faina de preparar dois barcos para o trabalho.
Um companheiro leva dois outros, na canoa vermelha (à esquerda, entre coqueiros) até um dos barcos; rema à proa, com um só remo: vai em ziguezague. Deixa os dois no barco menor, mais à frente, volta para pegar mais dois; embarcam todos os três no de trás, teto azul, um pouco maior.


Enquanto arrumam coisas, tiram o pouco de água que restou da chuva da noite, lá vem a lancha do Iate clube de Ilhabela, o condutor a acosta ao barco maior, entrega um monte de gelo em sacos, logo colocados em caixas, e a lancha parte.  

Vão lançar suas redes entre as duas embarcações, recolher zilhões de peixes, lulas, camarões que, agonizando, serão lançados às caixas, entre camadas de gelo.... Têm melhor sorte que os que, fisgados por anzóis impiedosos, lutam desesperadamente por se soltar, salvar suas vidinhas e morrerão também agonizando sobre o concreto do “Cais dos Pescadores”.


[1]Poderia até parafrasear o que escreveram para Neil Armstrong decorar e dizer ao pisar na Lua: “Um pequeno passo para um homem, enorme salto para sua alma”, vide https://pt.wikiquote.org/wiki/Neil_Armstrong
___________________________

Daí, deste pequeno e rotineiro passo, minha alma, condoída pelo destino destes companheiros de viagem, volta a se lembrar da frase de Steven Weinberg: “The more the universe seems comprehensible, the more it also seems pointless”[1]

E arrancamos um pé de alface e este chora, agoniza, é também como arrancar a fruta da árvore, roubar o ovo da galinha...

Há algum tempo, creio que em 2011, escrevi “Neo onívoro – Ou Ex vegetariano”, um dos capítulos de meu livro “E não houve tempestade em Tóquio” em e-book pela Amazon Brasil.
Afinal, pra que tanta maldade e judiação? É este o objetivo do universo?

Matar para não morrer pode ser necessário, eticamente correto, ao menos aceitável em casos duvidosos; matar mais que o necessário, matar sem necessidade, sem sentido, matar por prazer, é incompreensível. No entanto... assim me parece agir o universo.

Fui rever o que existe sobre a história da Terra; há um vídeo do National Geographic que já havia visto: é bom, mas falha e atropela na passagem dos herdeiros dos dinossauros até os primeiros que foram classificados como Homo sapiens que, de algum tempo, pretensiosamente, nos intitulamos “Homo Sapiens Sapiens”!  E, neste final, o vídeo se resume ao que aconteceu e aos fósseis encontrados na América do Norte, deixando de lado acontecimentos importantes no resto do mundo; em todo caso vale ver pela produção primorosa, pelos efeitos sonoros e pictóricos, por algumas imagens de antepassados que não são facilmente encontradas em outro site; se quiser, pode assistir neste link.  

Pesquisei muitas outras fontes, escolhi as que julgo mais bem embasadas, com teorias provadas ou mais aceitas, mais plausíveis. 

Resolvi produzir um texto que espero que possa ser criticado, comentado, corrigido e complementado por meus tantos amigos cientistas.
Podem ver o que escrevi aqui.

E uma história bem interessante, cheia de horrores, violência, carnificinas de animais e espécies, que afinal tiveram um propósito, darwiniano e materialista que seja: a evolução dos sobreviventes.
Desde as primeiras colônias de bactérias, é um sem fim de aniquilar ou matar; não é um “Eros e Tânato”, é “Rem e Tânato”. Por interesse primeiro em sobreviver, em seguida em crescer, dominar, espécies e grupos vêm matando aos seus e a outros ao longo de toda a caminhada deste planetinha.

A Bíblia conta uma fábula bonitinha, mais curta, da criação do universo, animais e homens (de mulheres como apêndice); tão inverossímil que há grupos de extremistas que dizem acreditar que a única verdade está na Bíblia (quem sabe até acreditem, vá lá saber como funciona o cérebro de um extremista!).

Em seguida a fábula vira longa estória de ambições, traições, assassinatos, guerras contra o que uns entendem outros como inimigos, matanças por orgulho ou vaidade, conquista de povos e espaços.
Escrita recentemente (alguns chegam a datá-la no máximo a poucos quatro ou cinco mil anos), reflete melhor a verdade sobre a humanidade como hoje a entendemos: “Rem et Thanatos”.

Eros? Bem, parece que o amor pelos filhos já existia nos primeiros mamíferos; pelo outro, da mesma família ou clã, intuímos (não conheço provas) talvez desde o Homo Habilis. 

Hoje, e por interesse, há amor nas religiões orientais, no espiritismo, no judaísmo, nas religiões cristãs, por seu Karma ou nele crescer, para ganhar os Céus, para a ele ascender na carruagem de Elias[2], para não se reencarnar numa minhoca, lagarto ou cachorro, e jamais como um de nossos abomináveis próceres...

O tal de Nova Fábula diz que Jesus pregou e praticou... ia escrever que este genérico e purinho da silva tivesse morrido com ele, mas me lembrei que “Amai-vos uns aos outros como eu os amei” já fazia parte do interesse de sentar-se ao lado do Pai, de conquistar um lugarzinho no Céu, para compensar e esquecer a dureza da vida nos lugares daqui debaixo.

Amor de humanos pelo meio ambiente, pelos rios e cascatas, matas, mar, e seus bichos... amor construtivo, mas totalmente interesseiro, não é?

Amores a uma causa? Muito poucos que não tenham origem no interesse próprio, diretamente ou indiretamente seu, através do interesse de um grupo, por ambição de ganhar poder, galgar altos postos; ou até para sentir-se bem. Mas os há, creio.

Espera aí! Não sou totalmente cético: sim existe amor desinteressado, intenso, entre nós humanos, com que eu, e você certamente, fomos abençoados, por receber e dar, sem limites, até a doação da vida quando necessário. É vivência como que de êxtase em tantos momentos e episódios de amor.

Existe, talvez, o amor por si mesmo, o mais difícil de se entender e atingir.

E existe a bondade, inata, espontânea, sem razão de ser senão ela mesma, cujos exemplos vemos por toda parte, raramente noticiados pela mídia, pois não é de seu interesse. Cada gesto, cada ação destas não cria êxtases, pouco ou nada são notados pelos que a têm: é natural, de sua natureza.

Enfim cá estamos nós fazendo parte desta história, com curiosidades insatisfeitas, perplexidades frente a acontecimentos e tragédias inaceitáveis e sem explicações. Sabemos quase tudo em seus detalhes, retalhos que não os sabemos cerzir.

Resta a felicidade de viver, simplesmente, curtir este planetinha maravilhoso, olhar o todo, deixar fluir Eros de que, assim, Thanatos será apenas consequência e ato de compreensão e bondade.   




[1] Quanto mais o universo nos parece compreensível, mais também nos parece sem sentido.
https://en.wikiquote.org/wiki/Steven_Weinberg
[2] http://www.morasha.com.br/profetas-e-sabios/o-profeta-eliahu.html

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