– Olha só como está velho, cansado! Anda
devagar, cabeça erguida, mas passos a esmo, como se não soubesse aonde ir ou
chegar...
Ele, com sua longa experiência, olha
examina, pensa. Sem a pressa, brincadeiras, algazarras dos jovens. Cães ladram
e ele, indiferente, passa.
Eu o observo sempre que posso.
Examina o que se lhe apresenta com cuidado.
Se em dúvidas para, pensa, medita, antes de prosseguir. Às vezes volta a um
trecho, reexamina, aprova ou não.
Sim, enquanto pensa anda para melhor pensar,
cabeça erguida, não olha para baixo.
– Deve estar cego, ou já com Alzheimer:
fica olhando o infinito, parado, olhando o que não há ou o que nem merece uma
olhada.
Não! Respeitoso e atencioso, ao sexo oposto
nem tanto; aos rapazes e velhos, sempre dá um bom dia, boa tarde ou noite.
Ele olha o que ninguém vê, sente ou cheira.
Se o observo também nada vejo, mas sei que ele, com seu faro, seu instinto, sua
tão longa vida, deve ter razão para ali ficar espiando coisas que sabe existir,
ou que memórias tantas o façam ali rever. Que merecem respeito.
– Tá doido mesmo! Agora sai, de repente, em
carreira, e logo adiante para ou volta a seu passo lento, trôpego...
Sim, com excelente memória, lembrou-se que
adiante havia trabalho ou documento a examinar.
Chegado para, pensa, considera
com seriedade e profissionalismo. Se aprova assina ou deixa instruções. Se viu
que era coisa sem importância retoma seus afazeres, em seu ritmo, seu passo,
seu tempo. Se sem saber bem de que se trata, coça a cabeça como qualquer um; em
geral descobre ou desiste, e vai em frente.
Deixa marcas, ensinamentos, mensagens para
todas as raças. Quem quiser que as leia ou não; seu papel já cumpriu.
Respeitável este senhor!
Seu nome? Já o sei há tempos: Sr. Totty[1].
FMFG, março de 2013, seu admirador
inconteste.
[1] Sr. Totty é brasileiro, nascido em São Paulo, Capital, de ancestrais germânicos, idade um tanto incerta, entre 76 e 80 anos de idade, tamanho médio, cabelos cinza claro, sobrancelhas e bigode cinza mais escuro, um Schnauzer ainda bonito de boa raça.
Bonita crônica, Flavio. Me emocionei. Pus no Face.
ResponderExcluirObrigado, Fernanda.
ExcluirAté hoje sinto muito a falta do Totty. Depois de sua morte minha esposa comprou 2 chihuahuas; eu queria outro Schnauser. São engraçadinhos, sapecas, mas não são companheiros como os chihuahuas... ;-(