Sonho vivendo; vivo novo sonho.
De novo.
E por aí vai o cardápio do Jhony’s Bar e Restaurante (sic), aqui ao lado do Edifício Anchieta, onde moro, com porções que dão para duas pessoas famintas e tudo já com um monte de salada ou o que se desejar. Se lá almoço já saio com a janta; se ao contrário, o contrário idem.
Uma negra e uma mulata, entre seus trinta e poucos e quarenta, duas mesas adiante, já pediram a terceira Brahma.
Conversam, fofocam, riem às pampas.
Entra um casalzinho jovem de branquelos azedos, chega à sua mesa: abraços, beijos, alegria em se reverem, a despeito da diferença de idades. “Tcháu! Deus os acompanhe… A vocês também!”.
– “Oi, professor! Que vai querer hoje?”
– “Professor, você já sabe!…”
– “Letras ocultas e ciências apagadas, né?”… risos.
– “Hoje sou Mestre. Mestre Sala da Unidos da Muleta e da Bengala”.
– “Tá bom, bengala é com o Senhor… E então?”
– “O que está mais fresco, carne, porco, frango ou peixe?”
– “Tudo aqui está sempre fresquinho!”
– “Vá lá então: um filé de frango bem passado com um pouquinho de arroz e batatas cozidas. Sem pimenta, né?”
– “E…?”
– “Sim, uma Brahminha pequena gelada e um cinzeiro ao natural”
– “É pra já!”
Olho a televisão: A Fátima e o Bonner movimentam os lábios; não dá para escutar nada. Prefiro a realidade ao redor.
Dois motoristas pedem cafés (cafés melados, já coados com açúcar! É isto aí: pobre toma esta coisa por 55 centavos…). Um me cumprimenta.
Chegam a cerveja e o cinzeiro; fumo um cigarro e “me garro a cismá”.
Dois jovens também entre os trinta e muitos e quarenta sentam-se à mesa perto da porta, de esguelha para a minha. Não vi o que pediram, mas já têm uma Brahma e um cinzeiro e fumam. Falam baixo: aqui ninguém fala alto, ninguém alardeia o último carro, cavalo, ou iate comprado (mas quase todos têm seus carrinhos). Gente educada. Gente que é.
Chega meu rango; enquanto como entra um casal, ela de seus trinta e muitos, ele de seus quarenta e muitos mais, talvez cinqüentas. Sentam-se à mesa em minha frente.
Mesmo que falem baixo entendo que ele é argentino, ela patrícia. Conversam; ele passa continuamente o braço por seus ombros; ele fala, bem baixinho, coisas em seu ouvido; beija-a na testa, no rosto, no pescoço. Às vezes conversam normalmente.
Termino meu jantar e acendo um cigarro.
O senhor argentino vira-se com um cigarro nas mãos. Pensei que fosse me pedir o isqueiro. Diz: “Agora que o senhor terminou seu jantar, vou fumar”.
Fico besta!
Disse: “Senhor, eu sou fumante, o senhor poderia ter fumado todo o tempo!”
– “Não, só agora que o senhor terminou.”
Os dois fumam e eu continuo a imaginar se cena como esta poderia ter ocorrido em qualquer dos restaurantes “chiques” que já conheci e frequentei.
Aqui, Garçons Gente. Gente simples e real. Iguais; sem frescuras.
Não nos olham de alto abaixo como em tantos lugares “In”, onde se paga os tubos, e em que pretendem que sejamos menos (ou pensem que somos mais) que eles…
Vida, cheio de vida.
De dia e de noite.
So vi este texto hoje. Como pode? Perdi o aviso da postagem?
ResponderExcluirSempre bom ter o prazer de ler mais um texto seu. Antes tarde do que nunca!
Obrigado, Eunice!
ExcluirÉ grande prazer ler os seus excelentes, gostosos e instigantes.