Parafraseando as palavras do poeta do amor e respeito às
mulheres, Orestes Barbosa, no samba maravilhoso “Chão de Estrelas”,
“E eles pisam em seus astros distraídos...”
Nasci na São Paulo ainda provinciana de 1935, nela
cresci e vivi até 1958, com poucas modificações que ainda não haviam apagado
toda sua natureza original.
Morei em várias cidades brasileiras, viajei pelo
mundo; minha esposa carioca, naturalizada paulistana, também.
Neto de três mineiros, bisneto de oito, passei por
Minas, capital e várias cidades, nunca aqui morara.
Fados e fatos me deram a maravilhosa oportunidade
de morar neste cantinho das Alterosas, bem distante da metropolitana Belzonte.
Ficamos e estamos maravilhados, apaixonados, por
estas terras e gentes, cultas ou não, gentis, prestativas, simples no viver e
ser, em que a cultura de tradições, usos e costumes, transparecem em cada um,
em cada detalhe.
Esta região – como creio que em outras muitas destas
minas gerais – tem artesãos de tudo: sapateiros, fotógrafos, serralheiros,
vidreiros, costureiras e costureiros, torradores de café em pequeno varejo,
doceiras e doceiros...
Todos artesãos de fato onde se leva um pedido, se
vê e fala com uma pessoa, acerta detalhes, coisas que desapareceram de todas as
capitais, onde tudo isto foi industrializado, transformado em redes impessoais
de franquias.
Gente, gente agora minha, por favor tome
consciência deste valor inestimável! Governantes
de nossas cidades e Estado, entendam, não permitam que este patrimônio se
perca, se acabe!
Esta gente de toda a região ao entorno nos acolheu
e nos trata como iguais, nos convidam para suas casas, para qualquer evento
importante aqui e ali.
Neste ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de
2019, tive a honra de ser convidado para o casamento de dois jovens de cidade
do entorno, muito queridos e por ali e aqui admirados.
Dentre tantas igrejas famosas, veneradas e muito
frequentadas, escolheram a Basílica Nossa Senhora da Conceição do Rio
Verde.
Não saberia chegar lá: contratei um motorista e
fui.
Não poderia imaginar que um município com população
tão pequena pudesse ter uma Catedral assim tão grande: Imponente, bonita, de
arquitetura externa em neobarroco mineiro de linhas retas, interna em estilo
neogótico despido, grande cúpula, com suas colunas e capitéis encimados por
estátuas excelentes dos doze apóstolos.
Apenas as paredes ainda estão brancas, sem pinturas.
Por elas esperam; pela fé inabalável, amor à tradição, generosidade, tenacidade
e grandeza de seu povo, certamente virão.
Igreja repleta da gente do lugar e arredores, as
mulheres e moças em seus melhores vestidos, cabelos, maquiagem, quase todas em
belos sapatos de saltos altos.
Os homens, além do noivo, os das famílias e muitos
padrinhos, todos em ternos pretos, gravatas claras; só eu e mais dois ou
três de paletó e camisa social sem gravata.
Todos os outros em trajes informais, muitos bem
simples, certamente seus melhores.
Com música e canto de pequeno conjunto de teclado,
violino, violão, cantora e cantor afinados, esperamos a entrada da noiva, bonita em lindo vestido, que, princesa que sabe ser, por todos passa com
sorrisos e acenos só para privilegiados.
Longa e tradicional Missa.
Vigário, próprio do local e redondezas, faz homilia
e repete trechos das escrituras, palavras dele reais, para seu povo real. Nada
de inovações e homilias famosas de vigários das capitais, com tiradas alegres,
brincadeiras, citações não ortodoxas.
Finalmente a enorme fila de cumprimentos aos noivos
e famílias que, sem demonstrar qualquer cansaço, sorriam, simpáticos, corteses, alegres.
Ainda novato nestas plagas, o motorista contratado
me levou à festa no enorme galpão, já preparado, enfeitado, mesas para três, e
outras para muitos convidados – que eram TODOS que quisessem vir – com música
ao vivo adequada.
Garçons e garçonetes servindo petiscos, Guaraná e
Coca Cola; pedi cerveja que logo veio e meu copo foi reenchido assim que
esvaziava.
Em mesa perto da entrada, casal que desconheço
perguntou se podia nela se sentar: concordei com alegria. Pedi que não tomassem
o resto da cerveja pois iria fumar um cigarro lá fora.
Chegados noiva e noivo, entrada ao som da música e
palmas, todos de pé.
Ao longo do tempo, noivos, pais e irmãos passavam
por todas as mesas cumprimentando e agradecendo aos presentes pela
participação, sem pressa, com atenção e carinho; todos assim também passaram
pela minha.
Não pude ficar para os pratos quentes, saladas e sobremesas: era tarde; longo caminho de volta para casa.
Ainda forasteiro, que experiência para mim
indescritível, Maravilhosa!
Obrigado meu atual povo.
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