terça-feira, 14 de junho de 2016

Solidões


Jantei sozinho, aqui no pequeno apartamento que foi meu sonho, e agora assisto o Jornal das 10 da Globo News.



É a cada dia diferente, a cada dia uma repetição com as pequenas alterações que compõem o andar da vida, de minha vida.

É como as cenas finais de 2.001, Uma Odisseia no Espaço, o personagem na cama, mudando a cada dia um pouco, 


até que, morto, retorne à terra como um feto e monólito-meteorito-lingote caído no pleistoceno inferior, apavorando e sendo deificado por bando de homus erectus ou neandertalis.



Como de hábito, tomarei umas doses de Natu Nobilis (cada vez menores por falta de grana) para embalar os sonhos que, sei, também como de hábito, serão coloridos, estranhos, intrigantes, mas gostosos.
 
E tudo recomeça...

E amanhã toda a liturgia, desde o acordar até o Jornal da 10, se repetirá.

Não sou tão infeliz como o Dr. David Bowman; não preciso que me tragam comida, tomo meu café da manhã (passado por mim), e preparo minhas refeições, normalmente no micro-ondas. Comer, lavar pratos, recepientes, e talheres, lavar roupa...

E, até hoje, não apareceu um monólito à minha frente.

A diferença é se você pode curtir a solidão – como já a curti – ou se ela lhe é imposta.

Vim morar aqui por escolha, para viver em cidade gostosa, agradável, fugindo da loucura de Sampa; mas também porque meus recursos não davam mais para morar lá. Aluguei meu apê de Sampa, e aqui o custo de vida é de 20 a 40 % menor, conforme o item.

Curti meu apezinho, minha solidão com alegria. Ia a São Paulo vária vezes para ver minhas filhas, meus amigos, a Ilhabela para ver meu filho. Era solidão controlada.

De repente, um tropeço, uma imbecilidade minha, acabou com tudo! Fiquei só com minha aposentadoria pelo INSS.

Solidão assim, forçada, não tem graça.

Espero que um monólito me reconduza à terra, à minha solidão programada.

Boa noite!


FMFG

Junho de 2016

2 comentários:

  1. descobri que quem tem amor à natureza não se sente só. quando não são as plantas de todas as espécies, mas especialmente, as frutíferas, são os pássaros, os insetos, os pequenos animais como lagartos, tartarugas de rio, veados, capivaras, vacas, cavalos e cães - oh os cães só pode entender quem tem um, com eles o amor sobe muitas patamares, é o verdadeiro amor incondicional. Querido moro no mato e a vida está pra de difícil, mas as pequenas coisas e as coisas desimportantes me salvam. Baita abraço saudoso, quando quiser às portas estão abertas. Gostas de arroz, feijão, salada de tomate com cebola e ovo frito? Então,.... não passarás mal. Fique com DEUS, ele também gosta de ficar perto da natureza.

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  2. Infelizmente ela não vem sozinha. Está sempre acompanhada pelas mazelas física, pelas aposentadorias insuficientes para manter um padrão de vida decente, pelos altos custos dos remédios e planos de saúde, etc...Para não falar na melancolia, quase tristeza, por tudo o que poderia ter sido, mas não foi. Felizmente ainda tenho a Debora para compartilhar alguns desses momentos. Aprendi, como você, a esquentar o jantar no micro-ondas para as ocasiões em que ela viaja para ver os neto. Nessas ocasiões eu prefiro - na verdade sou obrigado - a permanecer em Indaiatuba por razões econômicas. Aproveito para recordar o passado longínquo. Não tenho o mar. Mas tenho a sorte de morar vizinho a um pequeno bosque onde posso acompanhar de perto o lufa-lufa das formigas, conversar com um dos teiús (lagartos) que se reproduzem regularmente, observar ocasionais bandos de maritacas, numerosos sabiás e outras alimárias. No ano passado perdi meu melhor amigo (talvez o único além de você, o Johnnie, um poodle. Arruma um outro, me disseram. Não posso. Cuidar de um animalzinho como se deve custa ração, veterinários, e dedicação exclusiva. Tudo fora do meu orçamento. Ontem tivemos movimento. Um gavião (eles também frequentam a casa) caiu num jardim interno e não conseguia sair. Não sendo parente de helicóptero, o gavião necessita de um espaço para decolar. A cada tentativa, batia a cabeça e o bico no vidro. O que fazer? Abrir a janela e convidar o pássaro, já grandote, a entrar? Até que a Debora criou coragem, pegou uma toalha de mesa, atirou em cima do gavião, que por alguns momentos ficou imobilizado. Ai ela como que embrulhou o bichão, levamos para o jardim. Ele nem disee obrigado. Bateu asas e voltou para bosque.

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